sábado, 16 de março de 2013

Diabetes e Alzheimer: um ponto em comum

Fonte. Jean Remy Davée Guimarães. Ciência Hoje On-line - 15/03/2013.

Diabetes, Alzheimer e obesidade estão aumentando exponencialmente e com correlações perturbadoras entre elas.Já se verificou que há uma forte associação entre diabetes, obesidade, dieta, demência e Alzheimer. Pessoas que sofrem de diabetes têm probabilidade 2 a 3 vezes maior de desenvolver Alzheimer do que a média da população. A conexão obesidade-Alzheimer é menos estudada, mas sabe-se que a obesidade em idade madura predispõe ao Alzheimer e que uma vida ativa e dieta saudável reduzem a ocorrência de demência

As evidências nesse sentido são tantas que muitos especialistas já defendem que o Alzheimer seja considerado como um Diabetes tipo III, pois vários estudos sugerem que o Alzheimer seria uma consequência de perturbações na resposta do cérebro à insulina. Esta, além de regular o metabolismo do açúcar, tem papel bem definido na química cerebral, modulando a troca de sinais entre neurônios e atuando no aprendizado e na memória, bem como na manutenção dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro.

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O diabetes tipo I se desenvolve quando a pessoa não produz insulina, que é responsável pela retirada do açúcar do sangue para os órgãos do corpo. Estes pacientes são insulino-dependentes por que necessitam suprir a insulina de forma artificial. Já o diabetes tipo II, a pessoa produz insulina mas o corpo tem uma menor resposta a ela, ou seja, é resistente a insulina. A doença de Alzheimer compromete as funções cerebrais de forma gradativa, iniciando com alterações leves de memória até comprometer as funções motoras e cognitivas dos portadores.

Alimentos calóricos  já eram apontados como fator de desenvolvimento de Alzheimer devido à redução de irrigação sanguínea causada pelo colesterol (que entope literalmente os vasos sanguíneos) e aumento da pressão sanguínea (que causa lesões nos vasos), mas os estudos mais recentes sugerem que alimentos com muito açúcar e gordura também podem danificar o cérebro ao interromper seu suprimento de insulina.

O conhecimento destas relações é uma esperança de melhores tratamentos para os que já sofrem desses males e de melhores prognósticos para os ilesos até aqui.
É também um exemplo que gera reflexão sobre o custo/benefício do modo de vida que adotamos. A tecnologia nos permite viver com mais conforto e por mais tempo, mas também nos rouba qualidade de vida.

A prevenção destas doenças vão deste o consumo racional de alimentos calóricos, evitando sal, açúcar e gordura em excesso, a realização de exercícios físicos e o controle do estresse. Para aqueles que já apresentam obesidade e diabetes, o tratamento correto é a chave para impedir a instalação de outras complicações.





Diabetes e Pesticidas

Fonte: Jean Remy Davée Guimarães. Ciência Hoje On-line: 15/03/2013
          Plataforma Transgénicos Fora (http://stopogm.net)

A crescente incidência de males como câncer, problemas hormonais e reprodutivos e a relação com o uso de pesticidas é cada vez mais clara. Novos estudos têm apontado uma incômoda conexão que poderia explicar, ao menos parcialmente, as proporções a diabetes vem assumindo em escala global.
Um estudo de Arrebola e colaboradores, da Universidade de Granada, Espanha, publicado no periódico Environmental Research (vol.122) verificou que os pacientes com contaminantes originados de pesticidas tinham 4x mais probabilidade de ter diabetes tipo 2. A equipe dosou resíduos de diversos pesticidas no tecido adiposo de 386 pacientes adultos em dois hospitais locais.

A relação direta observada entre os níveis de poluentes orgânicos persistentes e o desenvolvimento de diabetes era independente da idade, sexo ou peso corporal do paciente. Segundo os pesquisadores, o acúmulo desses poluentes na gordura corporal poderia explicar por que os obesos têm maior facilidade de desenvolver diabetes. Não se sabe ao certo o mecanismo envolvido, mas os autores sugerem que os pesticidas provocam uma reação imunológica em receptores de estrogênio envolvidos no metabolismo dos açúcares.
Kit diabetes
      
As autoridades de saúde estimam que, em 2030, cerca de 4,5% da população mundial será diabética. Atualmente, cerca de 346 milhões de pessoas sofrem da doença e gera, além do sofrimento, e um elevado custo social para o seu tratamento. Além do tratamento medicamentoso, com glicemia e outros medicamentos, pessoas diabéticas precisam manter uma atividade física contínua para facilitar o controle da glicemia do sangue. 

Um relatório publicado pelo Departamento de Agricultura americano mostram que oficialmente houve um aumento significativo do uso de pesticidas, resultante em grande medida do fato de que estão aparecendo cada vez mais infestantes resistentes aos herbicidas aplicados na agricultura, mesmo em plantações transgênicas. Para o milho, soja e algodão transgênicos ocorreu um aumento de consumo de 144 mil toneladas de herbicida nos 13 anos desde que se iniciou o seu cultivo nos Estados Unidos. Em média (dados de 2008), as culturas transgénicas obrigaram a um uso de mais 26% quilos de pesticida por hectare do que as culturas não-transgénicas.

No momento, até a definição de mais estudos, os produtos atualmente disponíveis com menos contaminantes são os chamados "alimentos orgânicos" certificados, as hortas particulares e as lavouras que realizam o controle biológico de pragas.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Vitamina D - O que há de novo?

Fonte: Sofia Moutinho. Revista CH de 19/02/2013.
          The Lancet Magazine (Online). 6 Dez 2013.

Viver em cidades tem seus benefícios e confortos, mas certamente gera impactos negativos na saúde. Um deles, apontado pela antropóloga Nina Jablonski, da Universidade Penn State (Estados Unidos), é a deficiência de vitamina D. A escassez do nutriente entre os habitantes das cidades se deve a pouca exposição ao sol que a vida urbana proporciona.

Se, por um lado, os raios ultravioleta são vistos como vilões por causarem doenças de pele como o câncer, por outro, eles estimulam a produção de vitamina D, fundamental para que nosso organismo absorva cálcio apropriadamente. Desde a idade média já se relacionava a falta de sol como problemas nos ossos, chamada então de raquitismo.

Os estudos clínicos atuais apontam que em países próximos ao Equador, como o Brasil, entre 5 e 20 minutos diários de exposição ao sol de aproximadamente 25% da superfície corporal já são suficientes para garantir a produção de vitamina D em níveis aceitáveis. Pode parecer fácil para quem vive em um país ensolarado como o nosso mas Jablonski lembra que os horários mais seguros para pegar sol sem ter problemas de pele são entre 9h e 11h e entre 16h e 18h – períodos em que grande parte da população está trabalhando em locais fechados ou dentro dos carros.

A vitamina D pode ser obtida de alimentos como o óleo de peixe, ovos e leite, no entanto, a pesquisadora ressalta que é difícil atingir os níveis desejados somente com a alimentação. Para atingir os nível recomendados você teria que ingerir 1 litro de leite, 5 ovos, 500 g de fígado e uma lata de atum por dia.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que 99,2% das mulheres e 99,6% dos homens não ingerem a quantidade adequada de alimentos com vitamina D. 

Então, o que fazer?

Para obter vitamina D sem ficar exposto aos perigos do UV nem passar mal de tanto comer óleo de peixe, Jablonski aconselha a ingestão de suplemento do nutriente. Segundo ela, é seguro e não existe o risco de overdose, pois a vitamina extra é descartada pelo organismo.

Ou melhor ainda, além da alimentação balanceada, quando possível, ligue a produção automática de vitamina D: sua pele. Aproveite e realize atividade ao ar livre, no início da manhã ou final da tarde, numa caminhada, realizando esportes ou exercícios. Além de receber a dose diária de irradiação solar, a atividade física estimula a fixação de cálcio nos ossos, além de tirar um tempo para o relaxamento mental.

Devo tomar?

Para os casos de deficiência importante da vitamina D, a reposição pode ser necessária por que o corpo não consegue recuperar a quantidade necessária de forma rápida. Mas a suplementação para indivíduos saudáveis, sem sinais de osteoporose ou osteopenia, é motivo de debate. Uma revisão sistemática, publicada na The Lancet (2013), por Ian Reid e colaboradores, com 23 estudos, com uma população total de 4082 indivíduos saudáveis (92% eram mulheres com média de idade de 59 anos) que tomavam suplementos de vitamina D (sem cálcio adicional) por dois anos, não produziram mudanças significativas na densidade óssea.




Vitamina D e outra doenças

A redução de vitamina D tem sido associada a diversas doenças como câncer, síndromes inflamatórias (como esclerose múltipla e outras doenças autoimunes) e doenças cardiovasculares. No entanto, uma pesquisa de  Philippe Autier e colaboradores, publicada na The Lancet, põe em dúvida se a baixa de vitamina D é causa ou resultado nestas associações. A revisão de diversas pesquisas clínicas identificaram uma associação inversas de grau moderado a forte, pois a suplementação da vitamina não afetou a ocorrência destas doenças. Assim, aparentemente os níveis de vitamina D seriam mais um indicador geral de saúde do que um condicionador dela.

Mapa mundial da falta de saúde

Fonte: Cássio Leite Vieira, Revista CH. de 14/02/2013.
           GBD 2010. WHO. Disponível em: http://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/en/

Foi lançado um dos mais amplos estudos das causas e a distribuição de doenças, traumas e fatores de risco do mundo. O chamado GBD-Estudo do Ônus Global das Doenças 2010 indicou que a condição de 291 tipos de doenças e traumas, 67 fatores de riscos e 1.160 sequelas não-fatais. E desse total, cerca de 50 condições respondem por quase 80% dos problemas mundiais de saúde. O estudo está dividido em 21 regiões globais, 20 faixas etárias, cobrindo 187 países (inclusive o Brasil).

O GBD 2010 recebeu adjetivos elogiosos, como sobre-humano, magistral, inigualável, intenso, desafiador etc. Uma das razões foram as análises colossais. O tratamento estatístico é tão complexo que mesmo especialistas dizem não entender como brotaram os resultados. O GBD 2010 chegou a ser denominado caixa-preta. E contradiz vários dados da própria Organização Mundial da Saúde. Participaram cerca de 302 instituições com 486 pesquisadores de 50 países. O financiamento veio principalmente da Fundação Bill e Melinda Gates, que despejou 105 milhões de dólares.

Segundo o GBD 2010, morrem, por ano, 52 milhões de pessoas no mundo enquanto a OMS diz que são algo próximo de 56 milhões. Diminuiu a morte de crianças com menos de cinco anos de idade, e houve um aumento de 44%, de 1970 para cá, no número de mortes de adultos entre 15 e 49 anos, principalmente devido a violência e a Aids. A Aids, como causa de morte, passou de 35º lugar (1990) para 6º (2010). Vem diminuindo os casos de malária e diarreia; e caíram drasticamente mortes por tuberculose, mas aumentou o número de casos.

Em 1990, os três principais problemas de saúde no mundo eram, na ordem, infecção respiratória, diarreia e nascimento prematuro. Em 2010, eles são doenças cardíacas, infecção respiratória e derrame. Nestes 20 anos, saíram da tabela dos 12 maiores problemas mundiais de saúde a tuberculose e a desnutrição, e entraram para a lista o HIV e os transtornos da depressão.

Verificou-se aumento nos casos de transtornos mentais e de dor nas costas. A obesidade e diabetes também vêm crescendo – décadas atrás, havia pouca comida saudável; agora, há comida em excesso, mas não saudável.

Em relação aos principais fatores de riscos que causaram as maiores ‘perdas de saúde’ – em 1990, as três primeiras eram subnutrição infantil, poluição doméstica do ar (por conta das cozinhas de lenha) e tabagismo. Em 2010, os três vilões foram a hipertensão arterial, tabagismo e alcoolismo. Saíram dessa lista: falta de amamentação e alto índice de massa corporal (presentes em 1990) e entraram (em 2010) sedentarismo e baixo consumo de sementes e castanhas.

A África subsaariana contrastou bastante com outras regiões do mundo: muitos dos riscos e problemas da década de 1990, como subnutrição, poluição do ar doméstico e amamentação insuficiente, persistem lá como causas de morte. Cerca de 74% das mortes infantis ocorrem na África e sudeste asiático.
 O quadro relativo às condições de saúde no Brasil revela um misto de Primeiro e Quarto Mundos. O país teve “sucesso excelente” em reduzir a mortalidade de crianças abaixo de cinco anos de idade (média global, 58% de redução; por aqui, 84,5%); a violência interpessoal é ainda um problema seríssimo ligado à incapacitação e à morte prematura de homens entre 15 e 40 anos de idade.

Os dados indicam um paradoxo: mais crianças estão chegando à fase adulta e, como adultos, estão vivendo mais; porém, mais doentes. Numa época em que estamos observando o aumento da expectativa de vida das pessoas, é importante avaliar a qualidade desses anos de vida que estão sendo acrescentados. Uma dessas tendências observadas é que há uma redução das doenças infecciosas, mas agora a população sofre cada vez mais com dor e problemas de mobilidade.
Verificou-se que a expectativa de vida média mundial foi de 68 anos.